segunda-feira, junho 23, 2008

Na década de 40 Anaïs Nin e Henry Miller sobreviveram algum tempo escrevendo contos eróticos para um homem, que se fazia chamar O Coleccionador.
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Este coleccionador de pornografia não apreciava o estilo e várias vezes lhes exigiu que "saltassem a poesia" e se concentrassem no sexo, porque o resto não lhe interessava. Anaïs Nin escreveu-lhe uma carta em que define magistralmente a essência do erotismo:


"Querido coleccionador: Odiamo-lo. O sexo perde todo o seu poder e a sua magia quando é explícito, rotineiro, exagerado, quando é uma obsessão mecânica. Converte-se num aborrecimento. O senhor ensinou-nos mais que ninguém sobre o erro de não misturar o sexo com emoções, apetites, desejos, luxúria, fantasias, caprichos, vínculos pessoais, relações profundas que mudam a sua cor, sabor, ritmo, intensidade.

Não sabe o que perde com a sua observação microscópica da actividade sexual, excluindo os aspectos que são o combustível que a ateia: intelectuais, imaginativos, românticos, emocionais. É isto que dá ao sexo a sua surpreendente textura, as suas transformações subtis, os seus elementos afrodisíacos. O senhor reduz o seu mundo de sensações, murcha-o, mata-o de fome, dessangra-o.

Se alimentasse a sua vida sexual com toda a excitação e aventura que o amor introduz na sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, a paixão. O senhor vê que a sua chamazinha se extingue, asfixiada. A monotonia é fatal para o sexo. Sem sentimentos, inventiva, disposição, não há surpresas na cama. O sexo deve misturar-se com lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúmes, invejas, todas as componentes do medo, viagens ao estrangeiro, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.

Sabe quanto perde por ter esse periscópio na ponta do seu sexo, quando poderia gozar de um harém de maravilhas diferentes e novas? Não há dois cabelos iguais, mas o senhor não nos deixa perder palavras na descrição do cabelo; nem dos cheiros, mas se nos alargamos nisso, o senhor grita: Saltem a poesia! Não há duas peles com a mesma textura e nunca a luz, temperatura ou sombras são as mesmas, nunca os mesmos gestos, mas um amante, quando está excitado pelo verdadeiro amor, pode percorrer a gama de séculos de ciência amorosa. Que variedade, que mudança de idade, que variações na maturidade e na inocência, perversão e arte!...

Sentamo-nos durante horas interrogando-nos como será o senhor. Se recusou aos seus sentidos, seda, luz, cor, cheiro, carácter, temperatura, deve estar agora completamente murcho. Há muitos sentidos menores fluindo como afluentes ao rio do sexo, nutrindo-o. Só a pulsação unânime do sexo e o coração juntos podem criar êxtase. "

3 comentários:

Anónimo disse...

Sexo...sentidos que se perdem...é triste imaginar sexo sem cheiro, sem olhares deitados, mãos que não se mexem no sono...corpos que não se atravessam...
Mas eu sei que nao ves dois corpos em sexo, mas imbuidos numa espécie de misticismo...
Reservo o meu comentário anónimo porque sei que sabes quem o escreveu...

JulieSkywalker disse...

junho 23, 2008????


Acorda pa vida princess, já estamos em 2009!!!


Um grande beijinho e um ano simplesmente fabuloso :)

J.

contos eroticos disse...

iremos sempre viver fora do normal qnd estamos afim de fazer td ,,nw existe coisa melhor do que expressar akilo q realmente sente...