quarta-feira, fevereiro 04, 2009

CANTARES

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.

Nunca perseguí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Lo cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse lo vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso

ANTONIO MACHADO

Interpretado por Joan Manuel Serrat y Joaquín Sabina

segunda-feira, junho 23, 2008

Na década de 40 Anaïs Nin e Henry Miller sobreviveram algum tempo escrevendo contos eróticos para um homem, que se fazia chamar O Coleccionador.
*
Este coleccionador de pornografia não apreciava o estilo e várias vezes lhes exigiu que "saltassem a poesia" e se concentrassem no sexo, porque o resto não lhe interessava. Anaïs Nin escreveu-lhe uma carta em que define magistralmente a essência do erotismo:


"Querido coleccionador: Odiamo-lo. O sexo perde todo o seu poder e a sua magia quando é explícito, rotineiro, exagerado, quando é uma obsessão mecânica. Converte-se num aborrecimento. O senhor ensinou-nos mais que ninguém sobre o erro de não misturar o sexo com emoções, apetites, desejos, luxúria, fantasias, caprichos, vínculos pessoais, relações profundas que mudam a sua cor, sabor, ritmo, intensidade.

Não sabe o que perde com a sua observação microscópica da actividade sexual, excluindo os aspectos que são o combustível que a ateia: intelectuais, imaginativos, românticos, emocionais. É isto que dá ao sexo a sua surpreendente textura, as suas transformações subtis, os seus elementos afrodisíacos. O senhor reduz o seu mundo de sensações, murcha-o, mata-o de fome, dessangra-o.

Se alimentasse a sua vida sexual com toda a excitação e aventura que o amor introduz na sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, a paixão. O senhor vê que a sua chamazinha se extingue, asfixiada. A monotonia é fatal para o sexo. Sem sentimentos, inventiva, disposição, não há surpresas na cama. O sexo deve misturar-se com lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúmes, invejas, todas as componentes do medo, viagens ao estrangeiro, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.

Sabe quanto perde por ter esse periscópio na ponta do seu sexo, quando poderia gozar de um harém de maravilhas diferentes e novas? Não há dois cabelos iguais, mas o senhor não nos deixa perder palavras na descrição do cabelo; nem dos cheiros, mas se nos alargamos nisso, o senhor grita: Saltem a poesia! Não há duas peles com a mesma textura e nunca a luz, temperatura ou sombras são as mesmas, nunca os mesmos gestos, mas um amante, quando está excitado pelo verdadeiro amor, pode percorrer a gama de séculos de ciência amorosa. Que variedade, que mudança de idade, que variações na maturidade e na inocência, perversão e arte!...

Sentamo-nos durante horas interrogando-nos como será o senhor. Se recusou aos seus sentidos, seda, luz, cor, cheiro, carácter, temperatura, deve estar agora completamente murcho. Há muitos sentidos menores fluindo como afluentes ao rio do sexo, nutrindo-o. Só a pulsação unânime do sexo e o coração juntos podem criar êxtase. "

terça-feira, junho 17, 2008

OLÁ TENHO QUE IR ANDANDO
É um prazer voltar a ver-te neste curto intervalo
Entre o emprego e a televisão
Ouvir dizer que te casaste
Parabéns, já agora, diz-me aí que horas são
Estou outra vez atrasado
A minha vida é assim
Ando sempre a correr
De tal maneira ocupado
Que até já perdi um filme, que tanto queria ver
Olá, Olá, Olá
Tenho que ir andando...
No outro dia encontrei aquele tipo pintor
Que queria conhecer o Mundo inteiro
Quando o chamaram para a tropa
Ele não pensou duas vezes
Meteu-se no comboio e foi para o estrangeiro
Tu sabes que ele ainda pinta
Esteve-me a mostrar umas coisas
E eu sinceramente não gostei nada daquilo
Mas, claro que o elogiei, calorosamente
Olá, Olá, Olá
Tenho que ir andando.........
Quem ? Ah, sim, aquela miúda...
Era bonita, era e eu até gostava dela...
Desapareceu com um tipo qualquer...
Olá, Olá, Olá Olá, eu tenho que ir andando.
Jorge Palma

Reflete perfeitamente o meu dia de hoje, bem, não será só o de hoje, até porque há dias assim...

O vídeo que se segue é da entrega dos Globos de Ouro 2008 da SIC, no qual Jorge Palma ganhou o de melhor intérprete

segunda-feira, junho 02, 2008

Com o preço a que está a gasolina torna-se útil este site, a gasolina mais barata, por distritos:

segunda-feira, maio 19, 2008

E DEPOIS DO ADEUS
*
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
*
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
*
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
*
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
*
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós
*
José Niza
*
Esta canção serviu de senha de início do 25 de Abril de 1974, de cujo ano ganhou o festival da canção com a interpretação de Paulo de Carvalho

domingo, maio 18, 2008

NO TEU POEMA

No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um céu aberto

Janela debruçada para a vida
*
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo
*
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
*
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta, de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
*
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
*
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
*
Exista a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
*
Existe um rio
O canto em vozes juntas, em vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
*
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro
*
José Luis Tinoco

quarta-feira, maio 14, 2008

* Catulo dedicou toda a sua vida a Lesbia
* Antínoo atirou-se a um lago quando pensou que já não era suficientemente belo para Adriano
* Marco António perdeu um império por Cleópatra
* Lancelote atraiçoou o seu mentor e melhor amigo pelo amor da rainha Genebra
* Robin Hood raptou lady Marian
* Beatriz salvou Dante do purgatório
* Petrarca dedicou toda a sua obra a Laura
* Abelardo e Heloísa escreveram-se durante toda a vida
* Julieta bebeu uma taça de veneno quando viu 'morto' Romeu
* Melibeia atirou-se pela janela aquando da morte de Calisto
* Ofélia atirou-se ao rio porque pensou que Hamlet não a amava
* Polifemo cantou Galateia até ao final dos seus dias
* Botticelli enlouqueceu por Simonetta Vespucci
* Dom Quixote dedicou todas as suas gestas a Dulcineia
* Dona Inês suicidou-se por Don Juan
* Isabel de Inglaterra repudiou príncipes e reis pelo amor de Sir Francis Drake
* Sandokan lutou por Marianna
* Werther deu um tiro na fronte quando lhe anunciaram o casamento de Carlota
* Rimbaud não escreveu nem mais uma linha quando terminou a sua relação com Verlaine
* Verlaine tentou assassinar Rimbaud
* Ana Karenina abandonou o seu filho pelo amor do tenente Vronski e deixou-se trucidar por um comboio quando julgou que havia perdido aquele amor
* Camille Claudel enlouqueceu por Rodin
* ...
...e a mim não me ocorre uma maior prova de amor senão afastar-me porque continuo a pensar constantemente...

terça-feira, maio 13, 2008

Para uma mais rápida implementação do novo ACORDO ORTOGRÁFICO assinem a petição:

quinta-feira, maio 08, 2008

Donde habita el olvido

Cuando se despertó,
no recordaba nada
de la noche anterior,
"demasiadas cervezas",
dijo, al ver mi cabeza,
al lado de la suya, en la almohada...
y la besé otra vez,
pero ya no era ayer,
sino mañana.
Y un insolente sol,
como un ladrón, entró
por la ventana.
El día que llegó
tenía ojeras malvas
y barro en el tacón,
desnudos, pero extraños,
nos vio, roto el engaño
de la noche, la cruda luz del alba.
Era la hora de huir
y se fue, sin decir:
"llámame un día".
Desde el balcón, la vi
perderse, en el trajín
de la Gran Vía.
Y la vida siguió,
como siguen las cosas que no
tienen mucho sentido,
una vez me contó,
un amigo común, que la vio
donde habita el olvido.
La pupila archivó
un semáforo rojo,
una mochila, un peugeot
y aquellos ojos
miopes
y la sangre al galope
por mis venas
y una nube de arena
dentro del corazón
y esta racha de amor
sin apetito.
Los besos que perdí,
por no saber decir:
"te necesito".
Y la vida siguió,
como siguen las cosas que no
tienen mucho sentido,
una vez me contó,
un amigo común, que la vio
donde habita el olvido.
*
Joaquín Sabina

domingo, maio 04, 2008


A todas as mães em geral e à minha em particular...
Deixei-to há anos, neste dia da mãe, debaixo do guardanapo
=)

POEMA À MÃE
*
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
*
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
*
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se
demora e noites rumorosas de águas matinais!
*
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
*
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
*
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
*
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
*
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
*
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
*
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."
*
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
*
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
*
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
*
Eugénio de Andrade