segunda-feira, maio 19, 2008

E DEPOIS DO ADEUS
*
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
*
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
*
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
*
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
*
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós
*
José Niza
*
Esta canção serviu de senha de início do 25 de Abril de 1974, de cujo ano ganhou o festival da canção com a interpretação de Paulo de Carvalho

domingo, maio 18, 2008

NO TEU POEMA

No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um céu aberto

Janela debruçada para a vida
*
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo
*
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
*
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta, de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
*
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
*
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
*
Exista a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
*
Existe um rio
O canto em vozes juntas, em vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
*
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro
*
José Luis Tinoco

quarta-feira, maio 14, 2008

* Catulo dedicou toda a sua vida a Lesbia
* Antínoo atirou-se a um lago quando pensou que já não era suficientemente belo para Adriano
* Marco António perdeu um império por Cleópatra
* Lancelote atraiçoou o seu mentor e melhor amigo pelo amor da rainha Genebra
* Robin Hood raptou lady Marian
* Beatriz salvou Dante do purgatório
* Petrarca dedicou toda a sua obra a Laura
* Abelardo e Heloísa escreveram-se durante toda a vida
* Julieta bebeu uma taça de veneno quando viu 'morto' Romeu
* Melibeia atirou-se pela janela aquando da morte de Calisto
* Ofélia atirou-se ao rio porque pensou que Hamlet não a amava
* Polifemo cantou Galateia até ao final dos seus dias
* Botticelli enlouqueceu por Simonetta Vespucci
* Dom Quixote dedicou todas as suas gestas a Dulcineia
* Dona Inês suicidou-se por Don Juan
* Isabel de Inglaterra repudiou príncipes e reis pelo amor de Sir Francis Drake
* Sandokan lutou por Marianna
* Werther deu um tiro na fronte quando lhe anunciaram o casamento de Carlota
* Rimbaud não escreveu nem mais uma linha quando terminou a sua relação com Verlaine
* Verlaine tentou assassinar Rimbaud
* Ana Karenina abandonou o seu filho pelo amor do tenente Vronski e deixou-se trucidar por um comboio quando julgou que havia perdido aquele amor
* Camille Claudel enlouqueceu por Rodin
* ...
...e a mim não me ocorre uma maior prova de amor senão afastar-me porque continuo a pensar constantemente...

terça-feira, maio 13, 2008

Para uma mais rápida implementação do novo ACORDO ORTOGRÁFICO assinem a petição:

quinta-feira, maio 08, 2008

Donde habita el olvido

Cuando se despertó,
no recordaba nada
de la noche anterior,
"demasiadas cervezas",
dijo, al ver mi cabeza,
al lado de la suya, en la almohada...
y la besé otra vez,
pero ya no era ayer,
sino mañana.
Y un insolente sol,
como un ladrón, entró
por la ventana.
El día que llegó
tenía ojeras malvas
y barro en el tacón,
desnudos, pero extraños,
nos vio, roto el engaño
de la noche, la cruda luz del alba.
Era la hora de huir
y se fue, sin decir:
"llámame un día".
Desde el balcón, la vi
perderse, en el trajín
de la Gran Vía.
Y la vida siguió,
como siguen las cosas que no
tienen mucho sentido,
una vez me contó,
un amigo común, que la vio
donde habita el olvido.
La pupila archivó
un semáforo rojo,
una mochila, un peugeot
y aquellos ojos
miopes
y la sangre al galope
por mis venas
y una nube de arena
dentro del corazón
y esta racha de amor
sin apetito.
Los besos que perdí,
por no saber decir:
"te necesito".
Y la vida siguió,
como siguen las cosas que no
tienen mucho sentido,
una vez me contó,
un amigo común, que la vio
donde habita el olvido.
*
Joaquín Sabina

domingo, maio 04, 2008


A todas as mães em geral e à minha em particular...
Deixei-to há anos, neste dia da mãe, debaixo do guardanapo
=)

POEMA À MÃE
*
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
*
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
*
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se
demora e noites rumorosas de águas matinais!
*
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
*
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
*
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
*
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
*
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
*
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
*
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."
*
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
*
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
*
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
*
Eugénio de Andrade