domingo, junho 18, 2006


"Trago-te o mar, as nuvens que só as crianças sonham a vermelho. Trago-te a terra que te transformou em húmus e a seiva morna das árvores, a dor que a vida faz latejar no pulso dos homens sozinhos... e o tempo, essa doença dos vivos, eternizou-nos. Noite após noite, falo-te, amo-te sem que o saibas. Posso tocar-te sem sentires sequer a minha presença. Posso estar sem estar. Trago a cinza das horas nos cabelos e os dias da paixão onde não há dias nenhuns. Trago-te as palavras e este cigarro que fumaremos a dois... e do mar recolhi esta coroa de rubras escamas e o silêncio dos náufragos... uma concha, um punhado de sal..."
Al Berto, "O Anjo Mudo"